A tarde chuvosa pintava de chumbo o dia que havia raiado tão ensolarado. As gotas rolavam pelo telhado de palha e formavam uma poça no chão de ardósia vermelha.
Zoltan lembrava-se da sua amada. Fechou os olhos e chegou a sentir o cheiro do pão de arroz recém assado que ela costumava fazer. Seu coração se aqueceu. Ele encostou a ponta dos pés no chão e empurrou levemente a cadeira de balanço.
– Nhééém – o móvel soltou um rangido, que parecia uma risada lenta.
Uma janela enorme se abriu e uma melodia invadiu o quarto. Zoltan vestia uma túnica nova com braceletes de ouro e em seus dedos faiscavam rubis. No campo as flores dançavam com a moça que sacudia um vestido verde e um véu púrpura. A vida se intensificava em tudo que ela tocava. O rufar do coração do velho escriba se intensificou.
– Tara! – ele gritou num sussuro.
As palavras se desmancharam no ar. O véu evaporou e o sorriso de Tara preencheu tudo o que existia. Agora ela estava em seus braços. Sentiu a força renovar em seu estômago e se espalhar pelo corpo. Ele dançava e beijava a amada. Eram um só.
– Vim te buscar meu amor. – ela disse com o olhar.
A aia entrou no quarto a tempo de ouvir o último suspiro de Zoltan, que jazia feliz em sua cadeira.